quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Pacientes em estado vegetativo podem aprender

Um estudo feito por um grupo de cientistas da Argentina e do Reino Unido indicou que algumas pessoas em estado vegetativo ou de consciência mínima são capazes de aprender e, portanto, de demonstrar pelo menos uma consciência parcial.

Esta é a primeira comprovação desse tipo, abrindo novos caminhos para futuras terapias de reabilitação.

Ao estabelecer que tais pacientes são capazes de aprender, os autores do estudo apontam que o método que utilizaram poderá ser usado para verificar o estado de consciência sem precisar recorrer a métodos de obtenção de imagens, como tomografias computadorizadas.

A pesquisa foi feita por cientistas da Universidade de Buenos Aires e do Instituto de Neurologia Cognitiva, na Argentina, e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Estímulos

Com uso do método clássico de condicionamento pavloviano, os pesquisadores emitiam um tom sonoro e imediatamente ativavam um aparelho que soprava ar nos olhos dos pacientes. Depois de um período de treinamento, os pacientes começaram a piscar assim que o tom era emitido, mas antes de o ar chegar a seus olhos.

Os autores destacam que esse processo de aprendizagem exige consciência da relação entre estímulos - o tom precede e prevê o ar no olho. O mesmo tipo de aprendizagem não foi verificado em exames dos pacientes do grupo controle, composto por voluntários anestesiados.

Consciência

O pesquisador Tristan Bekinschtein, da Universidade de Cambridge, disse que havia um consenso de que os pacientes só conseguiriam ligar um fenômeno ao outro - o barulho ao sopro - se estivessem conscientes dos fatos.

Mas o estudo, onde 70 sopros foram dados em 25 minutos, mostrou que este tipo de reação condicionada é possível até em pacientes que não estão conscientes, pelas medidas convencionais dos cientistas.

Uma experiência semelhante com pessoas sedadas com anestesia geral não obteve as mesmas respostas, sugerindo que os pacientes em estado vegetativo podem ter algum nível de consciência que não é medido por testes convencionais.

Recuperação possível

Os pesquisadores apontam que o fato de os pacientes serem capazes de aprender associações indica que eles podem formar memórias e eventualmente se beneficiar da reabilitação.

"Esperamos que esse método se torne uma ferramenta útil e simples para o teste de consciência sem a necessidade de exames de imagens. Além disso, nossa pesquisa sugere que, se o paciente mostra capacidade de aprender, ele poderá atingir algum tipo de recuperação", disse Bekinschtein.

Para ele, os pacientes que responderam aos estímulos sonoros antecipando o sopro têm maior probabilidade de se recuperar. Segundo ele, 80% dos pacientes que responderam ao barulho tiveram algum tipo de evolução no seu estado.

Novos estudos

Os cientistas preparam agora um grande teste do tipo com pacientes nos Estados Unidos e na Bélgica.

"Estes eram experimentos pavlovianos clássicos e alguns pacientes, mas não todos, responderam", disse o cientista.

"Eles estavam claramente antecipando o estímulo que viria, então existe algum tipo de percepção. Do ponto de vista do paciente que está supostamente inconsciente, isso pode ter implicações profundas."

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