Os três braços desdobráveis do satélite SMOS, lançado pela Agência Espacial Europeia (ESA) no último final de semana, abriram conforme planejado, atestando que o satélite está funcionando conforme o esperado.
A abertura dos três braços era a parte mais sensível do início da operação do novo satélite e foi mais comemorada pelos técnicos do que o próprio lançamento. A ESA refere-se aos braços também como "antenas", embora eles sejam de fato os sensores científicos do satélite.
Testando os modelos climáticos
O satélite SMOS (Soil Moisture and Ocean Salinity) era longamente esperado pela comunidade científica. Ao medir a umidade do solo e a salinidade dos oceanos em escala global, o SMOS permitirá uma avaliação sem precedentes dos modelos computadorizados atualmente utilizados para prever as alterações climáticas na Terra. Com dados mais precisos, os cientistas poderão aprimorar as suas previsões.
A parte científica do SMOS está no módulo MIRAS, um radiômetro interferométrico (Microwave Imaging Radiometer) baseado na tecnologia Aperture Synthesis, que permite o acompanhamento contínuo do ciclo da água entre os oceanos, a atmosfera e o solo.
Tecnologias para o futuro
Aproveitando o mesmo foguete que lançou o SMOS, a ESA enviou para o espaço o Proba 2, um satélite de teste e demonstração de novas tecnologias que poderão ser incorporadas em missões futuras.
Serão demonstradas 17 tecnologias avançadas como, por exemplo, sensores miniaturizados para as futuras sondas espaciais, uma câmera CCD altamente sofisticada com grande angular de cerca de 120º e um conjunto de quatro instrumentos científicos para observar o Sol e estudar o meio plasmático na órbita da Terra.
As estações em Terra confirmaram que os dois satélites atingiram suas órbitas, a uma altitude de cerca de 760 km no caso do SMOS e de 725 km no caso do Proba-2.
Agora começa a etapa de aferição e calibragem, necessária para que os satélites iniciem suas missões. Prevê-se que o Proba-2 alcance o estágio operacional dentro de dois meses. Os instrumentos científicos altamente inovadores a bordo do SMOS demorarão mais tempo para serem totalmente calibrados e checados, sendo que satélite entrará no modo científico dentro de seis meses.
À procura de alterações na água
O SMOS é um satélite de 658 kg, desenvolvido pela ESA em cooperação com a agência espacial francesa (CNES) e com o Centro para el Desarrollo Tecnológico Industrial (CDTI) da Espanha.
O MIRAS, o único instrumento científico do satélite, liga 69 receptores montados em três braços desdobráveis - as "antenas" do satélite - para medir a temperatura de reflexão da superfície terrestre na faixa de frequências de micro-ondas. Esta temperatura está relacionada com a temperatura real da superfície e as respectivas características de condução térmica, que por sua vez estão relacionadas com a umidade no solo na superfície terrestre e com a salinidade da água na superfície do mar.
"Os dados recolhidos pelo SMOS complementarão as medições já realizadas em terra e no mar para monitorar as alterações na água em escala global. Uma vez que estas alterações, a maioria das quais ocorrem em áreas remotas, afetam diretamente o clima, elas têm uma importância crucial para os meteorologistas" afirmou Volker Liebig, diretor dos Programas de Observação da Terra da ESA.
"Além disso, a salinidade é um dos impulsionadores da circulação termoalina, a grande rede de correntes que condiciona as trocas de calor entre os oceanos em escala global, sendo que a sua análise era há muito esperada pelos climatologistas, que tentam prever os efeitos a longo prazo das alterações climáticas," acrescentou Liebig.
Exploradores da Terra
O SMOS é o segundo satélite de um programa da ESA chamado Earth Explorer (Exploradores da Terra) cujo objetivo é a aquisição de novos dados ambientais e a sua disponibilização para a comunidade científica.
O primeiro satélite desse programa foi o GOCE (Gravity and steady-state Ocean Circulation Explorer), lançado em Março de 2009 - veja Lançada sonda espacial que fará cartografia da gravidade da Terra.
Já se encontram em preparação outros exploradores da Terra. O Cryosat-2, que medirá a espessura das placas de gelo, deverá estar pronto para lançamento em Fevereiro de 2010. Ele será seguido pelo ADM-Aeolus, que estudará a dinâmica atmosférica, e pela missão Swarm que irá monitor o enfraquecimento do campo magnético da Terra, em 2011, assim como pela missão EarthCARE, relacionada com as nuvens e os aerossóis, a ser lançada em 2013.
Tecnologias para o amanhã
Com uma massa de lançamento de 135 kg, o Proba 2 é um satélite muito menor, "mas, à semelhança do seu antecessor Proba 1, destina-se a demonstrar uma ampla variedade de tecnologias, tanto para futuros sistemas de satélite como para instrumentos de ciência espacial. Entre estes, está um modelo de demonstração de um rastreador de estrelas miniaturizado, desenvolvido para a missão BepiColombo da ESA a Mercúrio e a futura sonda Solar Orbiter," afirmou Michel Courtois, diretor de Tecnologia e gestão da Qualidade da ESA.
Outras tecnologias que serão avaliadas incluem um sensor solar digital, uma câmera de grande angular miniaturizada, sensores de fibra, um magnetômetro de alta precisão, um receptor espacial GPS de dupla frequência, um propulsor eletroquímico de xenon e um gerador de gás frio.
O Proba 2 também levou para o espaço dois instrumentos de física solar belgas e dois instrumentos experimentais de física de plasma da República Checa.
Existem mais duas missões Proba que já se encontram na fase de concepção e desenvolvimento. O Proba V transportará um sensor multiespectral de vegetação para monitorar a cobertura de vegetação do planeta, e o Proba 3 deverá demonstrar o voo de naves em formação.
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