O feito é relatado em artigo na revista científica britânica "Nature" desta semana, junto com a análise do genoma de um parente próximo do S. mansoni, o S. japonicum. Entender em detalhes a biologia desses bichos é urgente, uma vez que uma única e antiga droga, o praziquantel, ainda é usada para tratar a infecção pelo esquistossomo. Ela até funciona, mas não impede que as pessoas sejam reinfectadas e apresentam o grotesco inchaço no ventre que deu à doença o nome popular de "barriga d'água".
"Ainda falta muito trabalho [para chegar a novas terapias], mas sem o genoma era muito complicado. Você podia passar meses para conseguir identificar uma proteína. Hoje basta abrir o computador. Então é, sem dúvida, um facilitador", disse ao G1 a bióloga Luiza Freire de Andrade, que atualmente faz seu doutorado no Centro de Pesquisas René Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Belo Horizonte, e é uma das co-autoras da pesquisa na "Nature". As outras instituições brasileiras envolvidas no estudo são a USP e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A melhor maneira de realizar um trabalho tão detalhado quanto a leitura de um genoma completo é fatiá-lo em vários pedaços e convocar colaboradores do mundo todo. Por isso, embora a coordenação da pesquisa tenha ficado com Najib El-Sayed, da Universidade de Maryland (EUA), cada membro da equipe se dispôs a uma análise aprofundada de certos genes do parasita. Andrade, por exemplo, estudou os genes que contêm a receita para a produção das quinases, proteínas que funcionam como sinalizadores numa série de processos do organismo.
"Uma maneira de identificar esses genes é comparar as sequências de DNA do esquistossomo com as presentes em outros organismos cujo genoma já é conhecido. Como eles também têm quinases, a semelhança ajuda a encontrar as quinases do esquistossomo", afirma ela. No total, Andrade identificou mais de 250 proteínas desse tipo, algumas aparentemente exclusivas do verme.
Alvos (não tão) fáceis
Esse ponto é importante porque ele faz parte da "receita" para um bom alvo para medicamentos ou vacinas, explica a bióloga. "Se a proteína é exclusiva do verme, bloqueá-la com um medicamento não vai causar problemas no hospedeiro", diz ela.
Também é interessante que o alvo terapêutico seja importante para a sobrevivência e reprodução do hospedeiro -- é o caso das quinases que participam do processo de maturação dos ovários das fêmeas. "E outro ponto-chave é bloquear uma proteína que não possa ser substituída por outra no funcionamento do organismo do bicho", diz Andrade.
Além das quinases, outro alvo interessante identificado pelos pesquisadores é o sistema que o verme usa para obter certos tipos de gordura. Ele não é capaz de produzi-los sozinho, sendo forçado a "roubá-los" diretamente de seu hospedeiro. Se for possível impedir essa interação, surgirá uma nova arma contra o esquistossomo.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário