terça-feira, 4 de agosto de 2009

Tecnologia vai prever o futuro e as necessidades humanas, diz cientista

Se os meteorologistas conseguem fazer previsões com elevado índice de acerto mesmo lidando com todas as variáveis que influem sobre o clima, não seria então possível prever quais voos devem ser cancelados ao redor do mundo para evitar que uma epidemia se alastre?

Há inúmeros fenômenos que, se previstos com um mínimo de precisão, poderiam ajudar os governos a lidar não apenas com problemas de saúde, mas também com a economia. Por exemplo, que medida dará melhor resultado: o corte de impostos sobre gêneros de primeira necessidade ou a manutenção dos impostos e a distribuição direta de recursos para as famílias pobres?

Previsão do futuro high-tech

O professor Alessandro Vespignani, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, afirma que isto é pouco e que será possível fazer muito mais, em áreas nem sequer imaginadas. Não será apenas o caso de extrapolar tendências, mas de prever de fato o que a população vai demandar no futuro, em termos sociais, econômicos e muito mais.

Os avanços recentes na teoria e na modelagem de redes complexas, juntamente com a possibilidade de coletar novos dados a partir da Internet e dos equipamentos eletrônicos móveis permitirá que "a humanidade atinja um poder real de prever o futuro," afirma ele.

Rastreamento individual

Pesquisas já demonstraram a possibilidade concreta de monitorar simultaneamente 100.000 usuários de celulares durante seis meses, usando os dados trocados constantemente entre os celulares e as torres de comunicação. Outra pesquisa demonstrou que a circulação de dinheiro pelas casas de câmbio oferece uma forma simples de monitorar o movimento de pessoas ao redor do mundo.

Neste exato momento, estão sendo gerados bilhões de bytes de informações sobre a vida de cada indivíduo, sobre a interação entre indivíduos e sobre os hábitos de cada um: registros de compras em cartões de crédito, dados de celulares, Bluetooth, GPS e WiFi deixam um rastro digital da vida de cada um que é virtualmente impossível apagar.

E, segundo Vespignani, agora já temos as ferramentas de software e o poder computacional para começar a fazer uso produtivo dessas informações.

Mineração de realidade

Essas novas técnicas, que o pesquisador chama de "mineração de realidade," deverá aumentar a capacidade dos pesquisadores e cientistas para prever com precisão os efeitos de fenômenos como eventos catastróficos, movimentos populacionais ao redor do mundo ou mesmo a invasão de novos organismos em ecossistemas, como pragas na agricultura ou vírus no ser humano.

"Isto é semelhante ao que aconteceu na física quando nós tivemos a mudança da física atômica e molecular para o estudo da física da matéria. Aqui nós vemos o movimento partindo do estudo de um pequeno número de elementos, ou pequenos grupos sociais, para o estudo do comportamento de sistemas sociais em larga escala, consistindo em milhões de pessoas, que podem ser caracterizados no espaço, tanto geográfico quanto social, e no tempo," diz o cientista.

Dados fluindo pela rede

Vespignani reconhece que a criação da infraestrutura necessária para as previsões do futuro, como ele as entende, ainda está dando seus primeiros passos. As informações já estão sendo geradas em larga escala, mas ainda não há um mecanismo para que elas sejam reunidas de forma rápida, fácil e em tempo real.

Isto reduz a possibilidade das previsões a estudos específicos, com tempo determinado e com grandes orçamentos. Mas, num futuro próximo, prevê ele, esses dados estarão fluindo pela rede, graças ao aumento crescente do poder de processamento dos computadores e da capacidade e armazenamento de dados digitais.

O trabalho à frente, segundo ele, envolverá a atuação conjunta de vários campos do conhecimento, incluindo teoria de redes, biologia matemática, estatística, ciência da computação e física estatística.

Artistas da aproximação

Vespignani reconhece que essa capacidade de previsão do futuro levanta sérias questões de privacidade. Mas ele passa ao largo da discussão de forma inteiramente pragmática: os dados estão disponíveis, é fácil e barato coletá-los e não há porque não usá-los.

"Nós gostamos de pensar que somos únicos. Mas provavelmente, para 90% das nossas interações sociais, nós não somos assim tão únicos," diz o físico. "Os físicos trazem um equilíbrio especial entre rigor matemático, abordagens computacionais e intuição para o problema. Nós somos os artistas da aproximação."

Comentando a pesquisa, Adrian Cho, da revista Science, afirmou: "No campo dos sistemas socioeconômicos complexos, os físicos e outros cientistas analisam as pessoas quase como se elas fossem elétrons totalmente substituíveis."

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