terça-feira, 4 de agosto de 2009

USP realiza primeira cirurgia robótica de fígado

Médicos do Hospital das Clínicas (HC) da USP (FMUSP) realizaram pela primeira vez na América Latina uma cirurgia de ressecção de fígado utilizando um robô. O procedimento foi realizado em 2008, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, mas somente agora o procedimento foi divulgado. A equipe de médicos foi chefiada pelo professor Marcel Autran Cesar Machado.

O médico explica que as cirurgias utilizando a técnica de laparoscopia passaram a ser feitas no Brasil a partir da década de 1990. Com este tipo de intervenção, conta Autran, houve muitas vantagens em relação às chamadas "cirurgias abertas". "Trata-se de uma técnica menos invasiva, com menores incisões, redução na dor pós operatória e menor tempo de hospitalização, entre outros benefícios", descreve.

Laparoscopia robotizada

Ele lembra que por meio desta técnica, em 2007, no Hospital das Clínicas da FMUSP, realizou uma cirurgia laparoscópica de hepatectomia direita de um fígado por vídeo, quando foram retirados cerca de 60% do órgão do paciente. "Foi uma intervenção cirúrgica pioneira", ressalta Autran.

Utilizando basicamente as mesmas técnicas da laparoscopia por vídeo, os médicos realizaram em agosto de 2008 a primeira cirurgia de fígado com o auxílio de um robô, na América Latina. Apesar de ser um procedimento reconhecidamente caro, Autran destaca a eficiência e algumas vantagens do sistema, como a visão em três dimensões que o robô permite ao cirurgião e os amplos movimentos possibilitados pelos três braços do equipamento.

Imersão total

"A visão por intermédio do robô nos possibilita enxergar detalhes mínimos. Uma imersão total" enfatiza o médico sobre a possibilidade de visualização do órgão durante a cirurgia.

Como na laparoscopia, o paciente tem injetado no local da operação uma porção de gás carbônico (CO2). "O CO2 faz com que o órgão se desgrude das paredes do peritônio. Além disso, ele também é um eficiente antiinflamatório diminuindo a Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica [SIRS], comum em algumas cirurgias de grande porte", explica.

Robô cirurgião

Além dos três braços, o robô possui pinças que podem se movimentar para todos os lados em ângulos de 360 graus. "São dois braços, um do lado esquerdo e dois do lado direito. Com eles, o médico tem condição de atuar em todas as direções, bem como movimentar as pinças para todos os lados. As ferramentas facilitam a retirada de tecidos e os pontos que devem ser dados após uma cirurgia. Há situações, por exemplo, em que alguns pontos devem ser feitos em posições desconfortáveis para o cirurgião. Isso com a utilização do robô não acontece", garante.

Menor chance de erros médicos

Autran também destaca a eficiência do equipamento em relação à segurança. As câmeras do robô são controladas por um pedal. "O sistema tem ainda a capacidade de interromper movimentos bruscos e pode até redimensioná-los em caso de necessidade. Isso inibe erros. Em cirurgias normais, por exemplo, o médico atua em pé e existem estresses que podem se refletir nos seus movimentos", diz Autran. Com a utilização do robô, o profissional atua sentado e com os braços apoiados, proporcionando uma ergonomia adequada.

Cirurgias de fígado e pâncreas

"O robô também pode ser ajustado para realizar movimentos com amplitude de escala reduzida o que permite suturas em espaços pequenos com grande desenvoltura e mais rapidez", descreve o médico.

De acordo com Autran, a maior vantagem no emprego da cirurgia robótica é nos procedimentos mais complexos. "Na cirurgia inédita que realizamos o paciente do sexo masculino tinha uma cirrose hepática criptogênica", conta o médico.

O equipamento está disponível somente nos hospitais Sirio Libanês, no Oswaldo Cruz e no Albert Einstein, todos em São Paulo. A utilização do robô, dentre os procedimentos sobre o aparelho digestivo, é recomendada principalmente para cirurgias complexas de fígado e pâncreas. A equipe de Autran também realizou a primeira intervenção em um pâncreas utilizando o mesmo equipamento.

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