sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Pesquisador brasileiro cria modelo para TV digital educativa

Pesquisador da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da USP, o jornalista Francisco Rolfsen Belda, desenvolveu um modelo de referência para produção de conteúdo educativo de forma interativa em TV digital.

O projeto foi constituído principalmente visando a implantação do modelo em canais educativos e universitários. Belda explica que "qualquer canal com programação educativa poderia usar esse modelo, porém esses canais (educativo e universitário) seriam os mais interessados porque eles são mais experimentais, mais abertos."

Ele acrescenta ainda que é principalmente nesses canais que estão sendo desenvolvidos boa parte dos projetos com ensino a distância.

Roteiro de mídia digital

O modelo desenvolvido pelo pesquisador contém uma série de mapas conceituais, tabelas, gráficos e quadros que podem ser usados como referência em um projeto de programação educativa e interativa para a TV digital brasileira. "O projeto não é um modelo fechado, mas uma espécie de roteiro que profissionais de mídia podem consultar para montar sua programação," ressalta Belda.

A intenção do modelo é o de criar diretrizes para interação entre diversos tipos de mídias. Para facilitar a construção do projeto, Belda classificou-as em cinco categorias: vídeo, áudio, imagem, texto e animação.

Por estar ligado à televisão, o vídeo é, obviamente, o carro-chefe da pesquisa, fazendo com que a interatividade como enquetes, glossários e sequências de imagens tenham como ponto de partida o vídeo.

Dentro do modelo, uma videoaula ou uma palestra poderiam ser interrompidas em qualquer momento que o usuário se deparasse com um termo estranho e fosse consultar um glossário, ou ainda para responder uma série de perguntas propostas pelo professor ou apresentador.

Além da TV atual

O pesquisador explica que o modelo desenvolvido não foi planejado visando a tecnologia empregada atualmente. "Mesmo porque, se fosse desenvolvido um modelo atual, diante dos avanços tecnológicos contínuos, ele ficaria obsoleto rapidamente."

Um dos grandes limitantes é a ausência do chamado "canal de retorno", ou seja, o ponto onde o telespectador vira "tele-interador" e participa diretamente da programação, enviando seus próprios vídeos, perguntas, respondendo a enquetes, entre outros. Segundo Belda, seria necessário algum tipo de conexão com a internet que os televisores de hoje não suportam. Além disso, falta regulamentação sobre o assunto.

Outro problema seria o controle remoto que, por mais que consiga atender a boa parte das necessidades, dificulta mais o trabalho do usuário na hora, por exemplo, de preencher um formulário. "O modelo foi pensado em função do controle remoto, mas ele não pode se limitar por isso, foi preciso desenvolver um formato que independa do aparelho da vez", acrescenta o pesquisador. Ele explica que uma saída seria o uso de um joystick, como o dos videogames, comandos de voz ou teclados virtuais.

Transmídia

Uma solução para o problema da interação espectador/programação seria a utilização de um modelo híbrido que convergisse internet, tv e celular, a chamada "transmídia". Contudo, Belda destaca que, mesmo com a presença da internet, a televisão tem grande importância no processo de difusão de um conteúdo educativo, pois ela está presente em cerca de 97% das residências brasileiras.

Para testar a usabilidade do modelo desenvolvido em sua pesquisa, Belda, com apoio de seus colaboradores, desenvolveu o protótipo de uma fábrica virtual interativa. Navegável pelo controle remoto, a fábrica 3D foi construída voltada para os estudantes de Engenharia de Produção da EESC. Dentro de cada espaço na fábrica o usuário encontra diferentes vídeos e complementos relacionados a temas da área.

Belda destaca que um dos grandes feitos da fábrica virtual foi utilizar linguagens de programação compatíveis com o Ginga, programa de computador para TV digital que foi desenvolvido por pesquisadores brasileiros. O jornalista ressalta ainda que "o protótipo final serviu para mostrar qual modelo é viável".

Com relação à produção de conteúdo, o pesquisador entende que o projeto desenvolvido ultrapassa a ideia "do modelo um para muitos", onde poucas emissoras produzem grande parte do conteúdo da televisão. "Qualquer grupo pode fazer. Não é preciso uma emissora para produzir conteúdo. Um grupo de alunos e um professor podem produzir sozinhos uma videoaula ou outros conteúdos disponíveis nesses canais", completa.

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