Durante um encontro realizado nesta semana em São Paulo, os pesquisadores apresentaram dados conflitantes, sobretudo no que diz respeito a estoque de carbono e emissões de gases causadores do efeito estufa.
Estocando carbono no solo
Em sua apresentação "Estoque de carbono e emissão de gases de efeito estufa associados com cultivo de cana-de-açúcar no Brasil", Carlos Clemente Cerri, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo, demonstrou a possibilidade de estocar carbono no solo com práticas agrícolas.
Segundo ele, durante o processo de produção da gasolina são emitidos gases que, se convertidos em dióxido de carbono, correspondem à emissão de 2,74 miligramas de equivalente do gás por litro de gasolina. Para que o etanol substitua a gasolina com vantagens, sob o ponto de vista de emissão de gases de efeito estufa, será preciso emitir menos que esse coeficiente.
"Temos de pensar como produzir com menor impacto de emissão de gases, menor consumo de água, entre outros. Talvez tenhamos de repensar processos de adubação e reduzir a quantidade de calcário. Pode ser possível reduzir a um limite tal que não comprometa a produção, mas que diminua consideravelmente a emissão de dióxido de carbono", apontou.
"Pode ser que não precisemos ter uma produtividade tão elevada se, no final, tivermos ganhos para o etanol para que ele substitua a gasolina com vantagem. Mas esse cálculo nós ainda não temos", disse.
Perdendo o carbono do solo
Ao falar sobre a "Contribuição das mudanças da terra ao balanço dos gases de efeito estufa dos biocombustíveis", Kristina Anderson-Teixeira, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, apresentou estudos de ciclo de vida de gases de efeito estufa que demonstram maneiras de analisar o impacto da cana-de-açúcar e de outras culturas na produção de biocombustível.
Os estudos conduzidos por Kristina, que incluem duas localidades no Brasil - em Alagoas e São Paulo -, demonstram perda de estoques de carbono no cultivo da cana-de-açúcar.
Segundo Urquiaga, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Agrobiologia), apresentou dados de emissão de óxido nitroso que representam uma fração do que tem sido visto na literatura científica internacional, inclusive em dados usados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Metodologias imaturas
Diante do contraste de resultados apresentados, Glaucia Mendes de Souza, coordenadora do Projeto BIOEN, afirmou que as metodologias de análise de emissões ainda estão imaturas e que o programa pode trazer uma grande contribuição para criar um grupo ou uma rede de discussão sobre as metodologias.
Para Cantarella, diminuir a incerteza e a variabilidade que cercam os números exige um esforço da comunidade científica de ir a campo fazer novas avaliações.
"Obter números sobre os quais tenhamos um nível de certeza melhor é importante porque esse debate não é só do Brasil, é internacional", disse.
Os participantes do encontro destacaram a necessidade de haver uma preocupação não somente com a cana-de-açúcar, mas também com outras culturas. Mas, segundo eles, é preciso considerar o ciclo de vida da cadeia produtiva e, principalmente, que o etanol é sustentável e que, mesmo apenas com os dados disponíveis no momento, já se pode afirmar que oferece vantagens sobre a gasolina.
Fonte: Jussara Mangini
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